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ENEM 2010: RESGATE DA CREDIBILIDADE
Em 22 de fevereiro de 2010, com a divulgação final dos aprovados, encerra-se um ciclo iniciado em maio de 2009. Apesar das muitas falhas administrativas, ainda viceja ─ como um lírio em meio ao pântano ─ uma boa idéia: um exame com programa único e com abrangência nacional.
Recomeçar e executar quase tudo de modo diferente, pois aprendeu-se como não se deve fazer é a grande lição que fica. Ou seja, usando a metáfora da fênix ─ ave majestosa que, segundo a tradição egípcia, quando queimada renascia das próprias cinzas ─ vamos aproveitar as pedras soltas e construir uma nova edificação. Recordemos que são muitos os países que adotam provas e currículos unificados para o ingresso em suas universidades. O destaque é o SAT (Scholastic Assessment Test), o vestibular norte-americano ao qual o Enem 2009 pretendeu se modelar.
Não foi a falta de recursos financeiros o principal motivador de tantas trapalhadas. O MEC disponibilizou R$ 130 milhões, sem levar em conta os R$ 35 milhões que haviam sido pagos ao consórcio responsável pelo vazamento da primeira prova. Prevaleceu a incúria da gestão administrativa do INEP, que tem um novo presidente e cujos ombros não podem ser fracos, pois o fardo é pesado. Além de organizar a logística e a segurança das aplicações dos exames, além de corrigir a prática tão recorrente, ora do açodamento, ora das indefinições, ora do retardo das informações, há pontualmente outros desafios:
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Urgentemente definir datas das provas do ENEM, pois as escolas têm que organizar o calendário dessa preparação. Além dos vestibulares de verão, há os de inverno, e para esses, os exames provavelmente serão aplicados em março ou abril.
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Quais das línguas estrangeiras modernas farão parte do ENEM 2010 e seus respectivos programas, uma vez que ficaram ausentes no ano passado.
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O conteúdo programático do ENEM 2009 é excessivo e merece ser mais bem descrito e enxuto. Ficou genérico demais. A grade curricular deve ser reduzida em 20% a 30%, eliminando-se subitens de todos os capítulos. Amiúde, debatemos com os professores das diversas disciplinas os quais são unânimes em afirmar que há sobrecarga de conteúdos. Um detalhamento mais primoroso do programa do ENEM evita que o professor ministre temas complexos e desmotivantes, que não servem de pré-requisitos e que normalmente serão reapresentados na faculdade.
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Nos simulados e provas, produzidos pelo INEP, houve ─ muito além do aceitável ─, a divulgação de gabaritos errados, questões mal formuladas, enunciados longuíssimos, quando o candidato dispõe de apenas três minutos, em média, para a resolução de cada questão.
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As provas de Matemática se distanciaram dos bons vestibulares do país e ficaram comprometidas pelo excesso de contextualização e aritmética. Prescindiu-se de conteúdos mais profundos e maior nível de exigência. Não ignoramos que a Matemática ─ rainha e serva de todas as ciências ─ tenha escopo prático e utilitário. Nestes últimos 23 séculos, a matemática helenística foi reverenciada, pois os gregos eram movidos pelo desafio intelectual, pelo prazer de pensar e não apenas pelas aplicações utilitárias. Assim, é preponderante que se valorizem os bons fundamentos da disciplina, uma vez que o ENEM, transformado em grandioso processo seletivo, norteia todo o ensino da Educação Básica.
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Temos excelentes modelos de vestibulares, como, por exemplo, da UFPR, USP, UFRJ, Unicamp, UnB, UFSC, UFRS, UEL, UEM etc., quer pela lisura e eficiência administrativa, quer pelo nível das provas (sem macetes, decorebas, pegadinhas), premiando o aluno leitor e com raciocínio lógico. Portanto, o INEP pode dispor dos bons cérebros de nossas universidades, caldeados na frágua da experiência viva e não de um grupo hermético, especialmente para a elaboração das questões dos exames e de um conteúdo programático mais enxuto e mais bem descrito.
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O INEP tem o nobre dever de demonstrar eficiência em suas ações e resgatar a credibilidade junto aos meios acadêmicos e principalmente junto aos 4,1 milhões de inscritos e que acarretou um absenteísmo de 40% nas provas.
A sociedade brasileira ─ especialmente os jovens com pouca voz e pouca vez ─ não merecem essa quebra de expectativa, o que leva à frustração, descrença e desesperança. No ano em que a Rainha Elizabeth II passou pelo calvário de graves problemas familiares, ela cunhou uma expressão que se ajusta ao ENEM 2009: annus horribilis.
Jacir J. Venturi é vice-presidente do SINEPE/PR, diretor de escola e foi professor da UFPR, da PUCPR, de cursos pré-vestibulares e de escolas públicas e privadas.