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Duas fábulas para um ano desafiador
2016 é um ano de incertezas. Para transpô-lo, apregoa-se criatividade, persuasão e inventividade. Ao superar o período crítico, estaremos dotados de asas fortalecidas para voos mais altos. Na turbulência de uma crise, tire o “s” e crie!, ensina a sabedoria popular.
Duas fábulas que têm origem na tradição oral ensejam ensinamentos oportunos, e até jocosos, para um ano sobre o qual pairam nuvens borrasquentas.
Na primeira fábula, veremos que “os desafios nos fortalecem”. Japonês gosta de peixe, mas de peixe fresco. Gosta de receber visitas, mas de visitas breves. A analogia é pertinente. Para um nipônico, visita é como peixe: fresco e gostoso no primeiro dia, bom no segundo dia, mas no terceiro dia começa a cheirar mal.
Agora, deixemos de lado as visitas que entraram na história somente para fazer blague. O fato é que japoneses gostam de pescado fresco; mas como obtê-lo se em suas costas marítimas não há mais peixes? Pensaram ter encontrado a solução ao construírem barcos com maior autonomia para permanecer semanas em alto-mar. No retorno, porém, ao aportarem, os pescados estavam sem viço, sem frescor. E japonês não compra pescado já passado.
Nova tentativa: instalaram câmaras frigoríficas e os peixes chegavam congelados ao porto. No entanto, japonês não aprecia pescado congelado. Sashimi assim, nem pensar! Altera o paladar.
Surgiu, então, uma nova solução que parecia definitiva: aumentaram o tamanho dos navios e neles instalaram grandes tanques. Entretanto, ao retornarem à costa, após semanas ao largo, os peixes estavam exauridos, com pouco movimento. Eram mortos-vivos. E japonês não é bobo! Aperta o peixe, observa a cor das guelras, dos olhos... e rejeita!
Foi então que alguém teve uma ideia muito criativa. Ainda em alto-mar, atirar um pequeno tubarão em cada tanque. A fim de saciar a fome, o tubarão devora alguns peixes. E, por ter de enfrentar o desafio, a maioria chega ao porto bem viva, lépida e com boa aparência.
Moral da história: Num ambiente competitivo, podemos ser engolidos pelo nosso antagonista, mas quando somos desafiados saímos fortalecidos.
A segunda fábula nos diz que “é melhor andar à toa do que ficar à toa”. No Pantanal matogrossense, o dono da fazenda – “gigolô de vacas”, como se diz lá – percorre as suas terras como de rotina. Fiscaliza tudo, pois, como ele próprio diz, “é melhor andar à toa do que ficar à toa”.
Percorre o trecho em seu trator, que puxa uma carreta. Chegando perto da lagoa, inusitadamente, ouve vozes femininas. Aproxima-se mais. E o que avista? Sim, diversas garotas nuas nas margens da lagoa. Surpreendidas, nadam até quase não dar mais pé. A mais pudica das donzelas grita para o fazendeiro: “Só sairemos daqui se o senhor deixar de nos espiar e for embora!” “Eu não vim espiá-las”, responde o dono das terras. “Eu só vim alimentar os jacarés da minha lagoa!”
Moral da história: Para atingir os objetivos, são indispensáveis a persuasão e a criatividade.
Jacir J. Venturi, autor de livros e coordenador da Universidade Positivo, foi diretor de escolas e professor da UFPR e da PUCPR.