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O AMOR É LINDO, MAS DÓI
Amar intensamente implica em sofrimento intenso, pois “todo o amor vivo é um amor em conflitos”. O amor é um sentimento extasiante, mas, como o parto, dói. O poema de Adélia Prado corrobora: “O amor é a coisa mais alegre./ O amor é a coisa mais triste./ O amor é a coisa que eu mais quero...”
Numa relação a dois, amar não é o único verbo a ser conjugado: eu amo, tu me amas. Passada a fase da paixão ─ que sempre tem data de validade ─, há outros verbos a serem conjugados: perdoar, tolerar, dialogar, valorizar... O escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962) se faz oportuno: “Sai sempre ganhando quem sabe amar e perdoar; não quem tudo sabe e tudo julga”.
O que compromete uma relação adulta e duradoura é a indiferença, a falta de diálogo e não as discordâncias. A dois, à medida que envelhecemos ─ e amar é desejar envelhecer juntos ─ desfaz-se a paixão, a libido fenece( e para fazer rima e blague: a lei da gravidade prevalece), há de preponderar primordialmente o companheirismo e o diálogo.
O amor por si só não garante uma boa convivência. O grande desafio é a coabitação: túmulo do amor para aqueles que praticam exercícios de afastamento e momentos de enlevo e crescimento para outros que se propõem à prática dos exercícios de aproximação.
O escritor e filósofo Rubem Alves, com a sabedoria de uma existência vivida intensamente em uma palestra fez uma pertinente analogia: a relação a dois não deve ser como uma partida de tênis e sim de frescobol. Nesse, cada um com sua raquete lança a bola para que o outro a receba e a devolva da forma mais ajeitada possível. Há sinergia e ambos buscam o equilíbrio. No tênis, ao contrário, prevalece o antagonismo, a competição.
Os parceiros do frescobol praticam a empatia, uma palavra condizente quando se analisa a sua etimologia grega: en (dentro) + pathos (sentimentos). Destarte, empatia significa: dentro do sentimento do outro.
Homens São de Marte, Mulheres São de Vênus é um título de um best-seller. Nessa metáfora reside a etiologia das diferenças tanto biológicas (que bom!) quanto psíquicas e são essas que afetam os relacionamentos.
Gosto de aforismos, pois uma ou duas linhas podem conter mais sabedoria que dezenas de páginas de um livro e é por isso que eles sobrevivem aos séculos. Em meio a tantos, um deles mitiga aquela impotência quando os homens querem mais racionalidade na convivência com a cônjuge: “as mulheres foram feitas para serem amadas e não compreendidas”, frase de Oscar Wilde (1854-1900).
Amá-las, com gestos e palavras é o segredo. Se quiser compreendê-las, empregue mais utilmente o seu tempo em desvendar os enigmas da esfinge ou o problema da quadratura do círculo ou o último teorema de Fermat!
A distância entre o coração e o cérebro pode ser longa,mas aí cabe a indagação que provém da sabedoria popular: você quer ser feliz ou ter razão?
Jacir J.Venturi, é diretor de escola, foi professor da UFPR e da PUCPR e autor do livro Da Sabedoria Clássica à Popular.