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A GESTÃO ESCOLAR E A MEDIAÇÃO DOS CONFLITOS NA ESCOLA

Considere uma escola de porte médio, 800 alunos. Multiplique por 4 e terá 3.200 pessoas, que chamaremos comunidade escolar, composta de professores, funcionários, pais, avós e estudantes. Essa é a abrangência de ação dos diretores, pedagogos e funcionários administrativos, ou seja, os gestores. Minha experiência de 41 anos dentro de escolas públicas e privadas, em todos os níveis, indica que cerca de 15% dessa comunidade é capaz de comprometer a administração escolar e o precioso tempo dos gestores. É onde está o ninho da serpente, fonte precípua dos conflitos e aborrecimentos. Porém, são adultos, adolescentes ou crianças que necessitam da orientação dos educadores. É óbvio que os outros 85% têm demandas, cobranças e pontualmente geram desavenças, mas se enquadram dentro da normalidade.

Como reduzir os conflitos? Elenco alguns motes ou regrinhas de ouro: 

1) Difundir a cultura de que a diversidade é uma riqueza. Isso torna o ambiente escolar mais amistoso e menos conflituoso. Somos diversos, porém não adversos. A Floresta Amazônica contém bilhões de árvores. Não há duas árvores iguais, quanto mais nós, humanos, dotados de inteligência e sentimentos. Apara muitas arestas a implementação da Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner.

2) Combater diuturnamente o bullying, uma das principais fontes de desavenças entre alunos. A intensidade do bullying indica o quanto moralmente a escola está comprometida. É responsabilidade dos gestores e professores duas frentes de combate: prevenção e ação. É preventiva a implementação de uma cultura de respeito, tolerância e aceitação de que somos diferentes. Ação vigilante, proativa e punitiva sobre os agressores. Em resumo: ação como remédio e prevenção pelo comportamento ético.

3) Atacar o problema no nascedouro, antes que a marola vire um tsunami, antes que a minhoca se transforme numa cobra. No início de uma contenda, o mediador deve aliviar a tensão com um toque de humor ou com uma frase de efeito como a clássica de Shakespeare: "A tragédia começa quando os dois lados acham que têm razão".

4) Encarar o problema de frente e não apenas tangenciar. Mergulhar fundo. Muitas vezes, temos que contar com o decurso dos dias. O travesseiro é um bom conselheiro – ensina a sabedoria popular. 

5) Minimizar as posturas antagonistas de alguns pais – como se família e escola em trincheiras opostas estivessem. A escola erra sim e a família também. A tolerância ao erro, dentro de certos limites, é uma virtude e um aprendizado para a vida adulta. Sigmund Freud bem assevera: "educar é uma daquelas atividades em que errar é inevitável".

6) Ser bom ouvinte. A natureza nos concedeu uma boca e dois ouvidos. A mensagem anatômica é explícita: ouça os dois lados e fale menos. Oportuno é o refrão popular: "bom juiz é o que ouve o que cada um diz". É comum, nos arranca-rabos entre alunos, haver duas versões antagônicas. E quando a versão contraria os fatos, a primeira vítima é o fato.

7) Manter a hierarquia e a disciplina, requisitos indispensáveis para uma boa organização. Ao não punir convenientemente os alunos, os gestores e professores pensam que estão sendo liberais. No entanto, então sendo concessivos, bonzinhos, e a futura vida profissional cobrará de nossos alunos respeito às normas e à hierarquia. A escola é um laboratório para a vida adulta.

8) Normatizar a escola. Esta necessita de uma boa rotina, e para tanto regras bem estabelecidas e bem cumpridas. Fazem parte de uma boa rotina professores pontuais e com boa didática, funcionários solícitos, suporte tecnológico que funciona, banheiros e corredores asseados.

9) Transmitir valores. O educando precisa de um projeto de vida. Desde pequeno, é importante que desenvolva valores inter e intrapessoais, como ética, cidadania, respeito ao próximo, responsabilidade socioambiental, autonomia, o que enseja adultos flexíveis e versáteis, que sabem trabalhar em grupo, são abertos ao diálogo, às mudanças e às novas tecnologias. De todas as virtudes, a mais importante é a solidariedade: base das relações sociais e a partir da qual se fundamenta uma convivência pacífica.

Jacir J. Venturi, presidente do Sinepe/PR e diretor de escola. Foi professor do Ensino Fundamental, Médio, pré-vestibular, da UFPR e da PUCPR.

Jacir Venturi
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