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Diretor de escola: um gestor de pessoas ou gestor de conflitos?

Imagine um colégio com mil alunos, portanto de porte médio. Multiplique por 4 e terá quatro mil pessoas, as quais chamaremos de comunidade escolar, composta de pais, avós, docentes, equipe pedagógica, colaboradores, além, evidentemente, dos discentes. Esta é a abrangência de um diretor de escola, alvo de comentários quase semanais nas famílias.

 

Muito bem! Em média, quanto tempo esse diretor dedica à sua capacitação, à motivação de seus subordinados, à implantação de uma cultura para uma maior eficiência nos processos acadêmicos, de gestão e das boas e cordiais relações pessoais com a sua comunidade? Talvez 20%, se tanto. E não estamos tratando de escolas cujo entorno é conflagrado por violências e gangues.

 

Admitindo-se esse índice como razoável no Brasil, do que se ocupa o diretor nos 80% restantes do seu tempo? Essencialmente, com gestão de conflitos, burocracia, reuniões e elevado esforço para manter uma boa rotina escolar.

 

Vamos por partes: uma boa rotina escolar é imprescindível tal qual a energia elétrica e a água encanada. Quando faltam, todos percebem e reclamam. Aqui o diretor pode dar conta, instituindo regras bem definidas e sendo assertivo em cobrar da equipe pedagógica e administrativa a implementação e o cumprimento delas. Uma boa rotina escolar requer um elevado zelo para que haja uma comunicação fluida entre todas as pessoas da comunidade escolar, pois os ruídos de uma interlocução truncada estão entre as principais fontes de problema.

 

Obviamente, fazem parte de uma boa rotina escolar professores preparados, pontuais e motivados, funcionários solícitos, suporte tecnológico atualizado e em bom estado, instalações físicas esmeradas e comprometimento de todos para instituir um ambiente acolhedor e de respeito às regras e à hierarquia.

 

Reuniões e burocracia são dois grandes males da educação! Há excessos de reuniões, em geral pela falsa indução por uma cultura de gestão democrática, pois reuniões amiúde promovem atritos que, em vez de gerarem luz, geram calor, desavenças. Há outras consequências funestas: mau uso do tempo, menos ensino e menos convivência com os educandos.

 

Os controles excessivos e trâmites burocráticos são deletérios, são pragas do Estado brasileiro, pois absorvem um precioso tempo dos gestores da escola para cumprir as exigências legais. São uma praga, sim, pois um bom diretor pode implementar uma boa rotina na escola transferindo responsabilidades para a equipe pedagógica e administrativa, bem como reduzir os excessos de reuniões, mas é indefenso à cartorial burocracia.

 

Conflitos são as fontes precípuas de aborrecimentos do diretor, que muitas vezes chega ao final do dia extenuado e se pergunta: passei o dia apagando incêndios e o que eu fiz em prol da boa educação? Com a devida vênia, elenco algumas recomendações ou regrinhas de ouro de como administrar os conflitos no ambiente escolar, considerando ser salutar o envolvimento da equipe pedagógica, de professores e de funcionários.

 

Todo problema deve ser atacado no nascedouro, antes que a marola vire um tsunami. Independentemente do tamanho do problema, deve ser enfrentado e não apenas tangenciado. É altamente recomendável que haja na escola um mediador – um pedagogo ou preferencialmente o vice-diretor para administrar o ninho da serpente. E se a desavença cai no colo do diretor – em geral tendo como envolvidos professores, pais, alunos –, a primeira postura é serenar os ânimos, oferecendo água, café e enfatizando que cada um dos envolvidos fale pausadamente, um de cada vez, com tempo limitado e sem interrupções. Como preâmbulo, pode fazer a menção clássica de que se Deus (ou a natureza) nos concedeu uma boca e dois ouvidos foi por uma boa razão.

 

O diretor deve fazer valer a sua autoridade, sendo firme em bem conduzir os arranca-rabos, sabedor que é de que, nesses momentos, há sempre duas versões que se antagonizam. E o feeling e a experiência do diretor definirão se o imbróglio ali se encerra ou se adotará a estratégia do "decurso dos dias", na qual o travesseiro é um bom conselheiro.

 

Uma mediação eficiente pode reduzir as nuvens borrasquentas, com algumas frases de efeito ou tiradas de humor, se for oportuno, evidentemente. Os briguentos se altercam com xingamentos? O diretor interrompe: opa, opa, vocês sabem por que cavalo dá coice? Não sabem? É porque cavalo não sabe argumentar! Ou a clássica ponderação de Shakespeare: "A tragédia começa quando os dois lados acham que têm razão.".

 

Na verdade, a escola tem o perfil do seu diretor, que, além de líder assertivo e com autoridade, deve ser um bom gestor de pessoas. A ele competem duas frentes: prevenção e ação. A prevenção pela implementação de uma cultura de respeito não só mútuo, mas às diferenças e à hierarquia, até porque a escola é um laboratório para a vida adulta de nossos educandos. E ação vigilante e punições justas de acordo com as normas legais e Regimento Escolar. Ou seja: a ação é como remédio; ninguém gosta de tomar, mas promove a cura.  A  prevenção se faz pela implantação de um ambiente ético e saudável nas relações interpessoais. O ato de dirigir uma escola é, antes de tudo, uma prática do bom senso e de discernimento.

 

Jacir J. Venturi foi professor e diretor de escolas privadas e públicas por mais de quatro décadas e Coordenador da Universidade Positivo. É membro do Conselho Estadual de Educação.

Jacir Venturi
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