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Raciocínio lógico: uma das mais reconhecidas competências socioemocionais
Há aproximadamente 25 séculos, os gregos nos deixaram de herança o prazer de pensar, que culminou no espírito cartesiano – cogito, ergo sum –, ou seja, penso, logo existo. Outro francês, Henry Poincaré, nascido em 1845, filósofo e matemático, bem complementa o estímulo à reflexão, ao pensamento crítico e ao bom discernimento: “Duvidar de tudo ou acreditar em tudo são atitudes preguiçosas. Dispensam-nos de refletir”.
Vivenciamos um momento histórico singular, com amplo domínio de polarizações, dogmatizações, fake news, no qual quase todo ser humano se julga no direito de ser levado a sério, mas cujas manifestações nas redes sociais são irrefletidas, rasas. E o que temos? Uma algaravia, uma profusão confusa de sons e palavras.
Diferentemente de países desenvolvidos, nossa cultura pouco valoriza o aprofundamento, o conteúdo clássico, a têmpera racional, como pouco valoriza o esforço, o mérito, o bom rendimento escolar. Pesquisadores da Universidade de Harvard provaram cientificamente que a reflexão é indispensável para o aprendizado de conteúdos mais profundos e boa performance laboral. Todo profissional com bom raciocínio dedutivo é um resolvedor de problemas – que para o mercado de trabalho é uma das mais recomendadas competências socioemocionais ou soft skills.
Defrontar-se com uma tarefa mais complexa faz bem aos neurônios, desenvolve a autonomia intelectual e a confiança para superar outros desafios. Vinte minutos dedicados a um problema difícil – mesmo que não resolvido – promovem mais pulsos elétricos nas sinapses do que a resolução de cinco outros exercícios bastante acessíveis.
Por estas e outras razões, estimular o raciocínio deve ser uma das principais incumbências dos pais e professores, em especial no ambiente escolar. Que o nosso educando compreenda e produza bons textos e seja capaz de expô-los com clareza, síntese e lógica são importantes legados que a instituição de ensino pode oferecer.
Todavia, recorrentes e até enfadonhas – embora cruelmente verdadeiras – são as notícias do baixo desempenho dos nossos discentes nas avaliações nacionais em comparação com o de outros países. No último Pisa, tendo sido avaliados adolescentes de 15 e 16 anos em 70 países, o Brasil se manteve na 64.ª posição no conjunto de Matemática, Ciências e Português. No mais recente Ideb do Ensino Médio, a nota média foi 3,7, numa escala que vai até 10. No último Saeb, apenas 9,1% dos concluintes do Ensino Médio apresentaram aprendizado adequado dos conteúdos de Matemática. E na prova do Enem de três anos atrás, composta de 45 questões de Matemática com 5 alternativas, o acerto médio foi de 13 questões, quando a probabilidade de acerto no chute é de 9.
Todas essas provas priorizam o raciocínio lógico e a interpretação de textos, contrapontos à predominância do nosso ensino hermético, conteudista, minimamente interdisciplinar ou contextualizado. Se os governantes e nós, educadores, temos responsabilidades pelo status quo de nossa combalida educação, há de se compartilhá-la com uma boa parte dos estudantes, pois inércia, apatia e indisciplina contagiam todo o ambiente escolar.
Permita-me uma analogia com a atividade física: acordar às 6 horas para nadar, puxar ferro numa academia ou caminhar pode não ser nada prazeroso, mas depois de 30 minutos... ah, sim, advém a sensação de bem-estar provocada pela serotonina.
Assim como os músculos se fortalecem com os exercícios físicos, igualmente novas redes neurais se formam por meio de atividades que exijam raciocínio, abstração, análise crítica. Destarte, o cérebro produz uma proteína denominada neurotrofina que induz o desenvolvimento dos neurônios. Com isso, um ciclo virtuoso se estabelece, desencadeando a formação de novas sinapses que, por sua vez, retardam os males degenerativos, pois uma mente preguiçosa é oficina de doenças e do afastamento de um bom convívio social.
Jacir J. Venturi, autor de 3 livros e membro do Conselho Estadual de Educação, foi professor da UFPR, PUCPR e Coordenador na Universidade Positivo.