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Artigos

Perrengues de um professor de Matemática 1
(Este artigo foi publicado  no  HojePR e vários outros jornais)

A graça, os gracejos e as boas tiradas de humor são terapêuticos e, quando em sala de aula, são ferramentas valiosas da didática, pois permanecem indeléveis na memória dos estudantes. Ao encontrar muitos ex-alunos, somos em boa parte das vezes relembrados especialmente pelos causos cômicos, os ditos hilários, sem desmerecer as menções às exigências das provas ou à profundidade dos conteúdos, bem como aos ensinamentos de vida.

Mas professor não tem direito às vingançazinhas, aos melindres, mesmo diante dos perrengues, dos motejos, dos arranca-rabos, e aqui registro alguns deles que, embora estejam em primeira pessoa, não têm o propósito da autorreferência, até porque a graça maior é quando o professor não se sai bem – o que importa é a pilhéria, o humor e não quem leva a melhor. Evidentemente, todo professor é um ser humano e, num primeiro momento, prevalece a zanga: “esperem a próxima prova!”, em linha com o que ensina o dito popular: “A vingança é um prato que se come frio.”

 

A morte anunciada

Nos anos 1980, eu era professor de cursos da Engenharia no Centro Politécnico aos sábados, às 7:15 da manhã. Ano após ano, semestre após semestre, parte da turma se esbaldava na sexta à noite, em baladas e barzinhos, e chegava atrasada – quando ia – na aula do dia seguinte.

Sabendo disso, costumava estabelecer uma regra: a tolerância de atraso era de cinco minutos para a primeira aula, pois cada estudante que chegava atrasado tirava a atenção da turma. Depois disso, os alunos só poderiam entrar na segunda aula e, em tom de brincadeira, acrescentava:

– Atraso meu, só em caso de morte. Mas, se eu morrer, aviso antes.

Tudo corria bem até que, num belo sábado, um pneu da minha Belina furou e eu cheguei atrasado. Ao me aproximar da sala, um misto de ansiedade e nervosismo, pelas reclamações e blagues que eu já imaginava me esperarem. Mas eis que, para minha surpresa, nenhum aluno estava na sala! No quadro-de-giz e em letras garrafais, o veredito:

– O Jacir morreu.

 

O poeta bom de prosa

Nos idos de 1997, fui ao lançamento do livro de poesias Plantares, de um renomado autor de compêndios de Matemática, o mestre Nilson J. Machado. Na hora da dedicatória, disse a ele que estava muito surpreso com o tema da sua nova publicação, pois ele já era autor de mais de dez livros, porém todos sobre Matemática, ao que se justificou:

– Meu caro Jacir, depois de 50 anos, da cintura pra cima poesia; da cintura pra baixo, só prosa.

Jacir J. Venturi foi professor de Matemática e Física e diretor de escolas por 49 anos, da Educação Básica ao Ensino Superior, passando por cursos pré-vestibulares, tendo lecionado para mais de 90 mil alunos. Recebeu os títulos de Cidadão Honorário de Curitiba e de Comendador de Curitiba.

Jacir Venturi

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